Mercado Imobiliário 19/07/2016


Construtoras lançam imóveis de olho na demanda que virá depois de 2018

 

Fonte: DCI, 15 jul. 2016

 

Partindo do princípio de que o pior da crise já passou, construtoras começam a ensaiar um movimento de retorno dos lançamentos de empreendimentos. A estratégia, para economistas e empresários, é uma saída inteligente, já que o imóvel só será entregue quando, se tudo der certo, a economia voltar a crescer.

 

“A estratégia é muito assertiva. Hoje, além da desconfiança com a economia, o que impede o brasileiro de comprar imóvel é o juro do banco. No entanto, comprando um lançamento agora, o consumidor terá que se comprometer com o banco daqui a três anos, quando o imóvel for entregue. Até lá, a tendência é de melhora de toda a economia”, resume o professor de macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jonas Frederico da Costa, especialista em mercado imobiliário e consultor.

 

A visão do acadêmico vem em linha com a estratégia de muitos empresários. Na Terrasse Engenharia, por exemplo, o diretor da empresa, Osmar Nobolu Kassuia, garante que o momento é bom para lançar e colher frutos futuros. “Estamos focando no longo prazo, para daqui a dois ou três anos, quando esperamos que a economia tenha retornado à normalidade”.

 

A empresa anunciou um plano agressivo, com lançamento de cinco empreendimentos em Curitiba até o primeiro semestre do ano que vem. Os lançamentos vão contabilizar um Volume Geral de Vendas (VGV) de R$ 170 milhões.

 

Segundo o executivo, em um cenário em que as construtoras estão pisando no freio, quem tiver ativos prontos para quando a economia voltar a crescer terá vantagens. “Optamos por investir, nos preparando para um ciclo virtuoso que deve começar nos próximos anos”, disse ele, lembrando que três deles serão lançados ainda este ano.

 

Facilidades e oportunidades – A lógica de lançar agora, lembram Costa e Kassuia, também está atrelada a maior facilidade do comprador de pagar a entrada. “Hoje as pessoas não têm dinheiro guardado e, se têm, não está arriscando. A vantagem de comprar um imóvel na planta é que você tem dois anos para parcelar a entrada”, comenta o professor.

 

A estratégia da Terrasse parece ter sido adotada por outras construtoras. Segundo o indicador da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), divulgado ontem, em maio foram lançadas 5,6 mil unidades, um aumento de 218% na comparação anual. “O humor já está diferente, pois vemos que a inflação está mais contida e a balança comercial dá sinais positivos”, aponta o diretor da Abrainc, Luiz Fernando Moura.

 

Apesar da boa sinalização, Renato Ventura, vice-presidente executivo da entidade, ressalta que ainda é cedo para apostar em retomada do setor. “O desempenho do mercado imobiliário precisa ser analisado por um período maior. Desta forma, os números indicam um aumento pontual”, completa o executivo.

 

No acumulado de 2016 (até maio), os lançamentos totalizaram 21.406 unidades, número 24,7% superior ao observado no mesmo período de 2015. Considerando os últimos 12 meses, o total lançado de 68.270 unidades representa alta de 5,5% face ao observado no período precedente.

 

Apesar da alta nos lançamentos, as vendas alcançaram 8.496 unidades, recuo de 4,1% em relação ao mês de maio de 2015. No acumulado de 2016, as unidades vendidas somaram 39.472, queda de 14,7% frente ao observado no mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses, foram vendidas 105.408 unidades, volume 13,6% inferior se comparado ao total de vendas em 2015.

 

Já os cancelamentos de vendas (distratos) subiram 1% na comparação anual, e recuaram 3,1% no ano. No fim de maio, o estoque no mercado era de 114,8 mil unidades, equivalente a 14 meses de vendas. Em abril, o estoque era de 113 mil unidades e em maio de 2015, de 108 mil.

 

Aluguel – Para além da compra de imóveis, o valor da locação no Brasil também tem movimentado o setor. Ontem o Índice FipeZap apontou que, no primeiro semestre, o valor cobrado no metro quadrado para aluguel recuo 1,78%. Nos últimos doze meses a retração chega a 5,2%. Levando em consideração a inflação medida pelo IPCA nos últimos 12 meses (8,84%), o Índice apresentou uma queda real de 12,93%. Todas as cidades monitoradas pelo Índice mostraram resultados inferiores à inflação no período, sendo Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Santos, Distrito Federal e Campinas tiveram quedas nominais no preço médio de locação.

 

Faixas 2 e 3 do MCMV atraem mais incorporadoras e ampliam concorrência

 

Fonte: A Tarde, 17 jul. 2016

 

A concorrência entre as empresas de construção que atuam dentro das faixas 2 e 3 do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) – imóveis destinados a famílias com renda até R$ 3,6 mil e R$ 6,5 mil, respectivamente – tende a crescer gradativamente nos próximos meses, com mais incorporadoras se movimentando para lançar empreendimentos nessas faixas. Dois exemplos dessa nova realidade são Cury e Direcional, que atuavam tradicionalmente na faixa 1 do programa habitacional, mas mudaram de estratégia em meio à escassez de recursos para esse segmento.

 

O motivo para migração está na resiliência na oferta de crédito para produção e comercialização de imóveis destinados ao público das faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida, enquanto outros segmentos do mercado sofrem com escassez de recursos. Com a crise econômica e o corte de gastos públicos, o governo federal paralisou as contratações na faixa 1 (famílias com renda até R$ 1,8 mil), uma vez que as unidades são financiadas em até 90% por subsídios do Tesouro Nacional. Já as faixas 2 e 3 contam, majoritariamente, com dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que ainda têm recursos disponíveis para financiar o setor.

 

A Cury Construtora busca neste ano consolidar a migração de suas operações para as faixas 2 e 3. A companhia estima lançamentos que totalizarão R$ 700 milhões em valor geral de vendas (VGV) neste ano, alta de 47% em relação ao ano passado. Ao todo, estão previstos 10 projetos, dos quais nove enquadrados nas faixas 2 e 3.

 

“O crédito bancário está mais moroso devido ao cenário adverso em todo o País. Mas não podemos reclamar. Não tivemos nenhum projeto recusado pelo banco”, conta Fábio Cury, presidente da construtora. “Eu acredito que as contratações dentro do MCMV vão continuar rodando enquanto o FGTS continuar saudável”, complementa.

 

O mesmo movimento de migração está sendo realizado pela Direcional, que atuava na faixa 1 do MCMV e também nos segmentos imobiliários de médio padrão fora do programa. Diante do cenário ruim nessas outras áreas, passou a ajustar o foco dos negócios. Os lançamentos da incorporadora totalizaram R$ 200 milhões em VGV no segundo trimestre, crescimento de 15% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. No período, foram lançados quatro empreendimentos, todos enquadrados nas faixas 2 e 3, conforme relatório divulgado nesta semana. A Direcional também comprou seis terrenos voltados para as mesmas faixas do programa. Nesses lotes, há potencial de lançar 3.664 unidades, ou um VGV de R$ 629 milhões, segundo a empresa.

 

“A forte elevação dos lançamentos nas faixas 2 e 3 do MCMV deve ser bem recebida pelo mercado. Dados os expressivos níveis de demanda nesses segmentos, estamos confiantes de que as vendas da Direcional no terceiro trimestre serão muito maiores”, descreveu o analista Gustavo Cambaúva, em relatório do BTG Pactual.

 

MRV e Tenda – Enquanto novas concorrentes ingressam no segmento, as empresas tradicionais nessa área pretendem reforçar os lançamentos para se proteger contra a concorrência. A MRV Engenharia busca lançar ainda neste ano o maior projeto já realizado pela incorporadora. O empreendimento, batizado de Grand Reserva Paulista, contará com 25 torres em um terreno de 180 mil metros quadrados em Pirituba, zona norte da cidade de São Paulo. Ali serão lançadas, em etapas, 7,5 mil unidades, com um VGV de R$ 1,5 bilhão – tudo enquadrado nas faixas 2 e 3 do MCMV. “Apesar da crise, nós continuamos tendo uma procura muito grande neste ano. A demanda por imóveis continua forte”, observa o copresidente da MRV, Eduardo Fischer.

 

Segundo o executivo, a procura por terrenos para esse tipo de produto já mostrou aquecimento em relação aos anos anteriores, quando muitas incorporadoras davam preferência aos empreendimentos de média e alta renda, com margens maiores. Agora, a concorrência está maior, conta Fischer.

 

Outra empresa com grande escala no setor é a Tenda, subsidiária da Gafisa, com atuação focada na faixa 2. Segundo o diretor financeiro, Felipe Cohen, há espaço para aumentar as operações de forma orgânica, isto é, ampliando o número de lançamentos nas praças em que a companhia já atua. No primeiro trimestre, porém, os lançamentos foram de R$ 228,5 milhões, queda de 4% em relação ao mesmo período do ano passado. A justificativa para a queda é de que alguns lançamentos acabaram postergados devido à morosidade na concessão de crédito por parte dos bancos. “O segundo trimestre já será mais forte”, estima Cohen.

 

Uma preocupação dos empresários do setor ao longo dos últimos meses era a falta de clareza sobre o futuro do MCMV após as mudanças no governo federal. As dúvidas ainda não foram totalmente afastadas, mas a última declaração do novo ministro das Cidades, Bruno Araújo, ajudou a diluir os receios. O ministro afirmou em junho que a pasta pretende contratar 1,2 milhão de unidades nas faixas 2 e 3 do programa habitacional até 2018. Desse montante, 400 mil contratações devem ocorrer ainda neste ano, sendo que 200 mil já haviam sido realizadas até a metade do ano.

 

Área construída tem queda de 11% até junho, apontam consultorias

 

Fonte: Valor, 19 jul. 2016

 

A atividade de construção imobiliária medida por metros quadrados erguidos caiu 11,1% no primeiro semestre, ante os seis primeiros meses do ano passado, conforme o Índice da Atividade da Construção Imobiliária (IACI), parceria entre a Neoway Criactive e a Tendências Consultoria.

 

O indicador abrange os segmentos residencial, de escritórios comerciais, hotéis e outros ­ shopping centers, hospitais e escolas ­, e reflete a queda de lançamentos ocorrida nos dois últimos anos, de acordo com a diretora da unidade de negócios da construção da Neoway Criactive, Cristina Della Penna.

 

Se considerada somente a construção das incorporadoras de capital aberto, a retração foi de 9,2% no primeiro semestre, de acordo com o IACI.

 

Por segmento, foi registrada, de janeiro a junho, na comparação anual, queda de 27% no segmento outros, puxada, principalmente por shopping centers. Em hotéis, houve baixa de 19%, no segmento comercial, retração de 15% e, no residencial, recuo de 10%.

 

O IACI apontou redução de 13% na metragem erguida nos padrões médio, médio­alto e alto e queda de 7% na construção para a média­baixa renda e no segmento de habitação de interesse social (HSI).

 

No caso de lançamentos imobiliários, a pesquisa abrange o período de janeiro a abril e aponta retração de 49,1% em relação aos quatro primeiros meses de 2015 em metros quadrados. A maior queda foi no segmento hoteleiro (87%), seguida pelo comercial (62%) e pelo residencial (47%). Em número de unidades, o segmento residencial apresentou retração de 42,8%, de acordo com o levantamento.

 

A MRV Engenharia foi a maior construtora do país, no primeiro semestre, com 1,052 milhão de metros quadrados erguidos, de acordo com a Neoway Criactive.

 

A segunda colocação ficou com a Odebrecht Realizações Imobiliárias (256,494 mil metros quadrados), e a terceira, com a Direcional Engenharia (241,21 mil metros quadrados).

 

A Construtora Tenda respondeu pelo quarto lugar, com 164,465 mil metros quadrados, e a Even Construtora e Incorporadora, pela quinta colocação, com 158.072 metros quadrados.